sexta-feira, 23 de março de 2012

As torcidas, em números

Esses dias, uma notícia me chamou a atenção: falava de um relatório da Pluri consultoria sobre o tamanho das torcidas no Brasil. O resultado é mais ou menos condizente com o que pesquisas anteriores tem mostrado consistentemente: Flamengo tem a maior torcida, seguido de perto pelo Corinthians. São Paulo e Palmeiras brigam pela terceira posição.

Isso, na verdade, todo mundo sabe, está na boca do povo. O que não está na boca do povo são os números. E essa pesquisa da Pluri (disponível na íntegra aqui) é rica em números: estimativa de números de torcedores, renda, potencial de compra. E esses números, baseados em pesquisa própria e em dados do IBGE (PNAD, imagino) trazem algumas curiosidades:
  • A torcida do Corinthians em São Paulo (em torno de 14,1 milhões de pessoas) é quase o dobro do tamanho da torcida do Fla no Rio (7,5 milhões).
  • Por outro lado, o número de flamenguistas fora do Rio (21,7 milhões) é quase o dobro do número de corinthianos fora de SP (11 milhões).
  • Mais: em SP, o número de Corinthianos é aproximadamente igual à soma das torcidas de São Paulo (8,4 milhões) e Palmeiras  (5,5 milhões).
A tabela completa com os 20 maiores (sim, o Cruzeiro está na frente do Galo):
(Fonte: Pluri Consultoria)
E o que isso importa? Ora, o que importa é o que está em jogo no futebol moderno: dinheiro. Maior torcida se traduz em maior potencial de consumo. Logo, maior interesse de anunciantes, maiores cotas de TV, etc.

E para os que acham que "corinthiano é pobre", a pesquisa traz uns dados interessantes:
  • A renda média por torcedor do Corinthians (R$ 761) é maior que as rendas médias por torcedor de São Paulo (R$ 743), Palmeiras (R$ 722) e Flamengo (R$ 648).
  • As maiores rendas médias são dos torcedores de Florianópolis: Avai (R$895) e Figueirense (R$ 891).
(Fonte: Pluri Consultoria)
E quanto o torcedor está disposto a gastar com o time?
  • A Pluri define um "potencial de consumo", que depende i) da renda mensal, ii) do quanto da renda o torcedor está disposto a gastar com futebol e iii) da "oportunidade de consumo", ou seja, se o torcedor mora no mesmo estado do time, ele terá mais oportunidades para gastar esse dinheiro. 
  • Definido esse índice, eles mostram que o "potencial de consumo" total da torcida do Corinthians é mais de 50% maior que o de São Paulo ou Flamengo e mais que o dobro do que o do Palmeiras.
  • Mesmo normalizado pelo número de torcedores, o "potencial de consumo" de cada torcedor corinthiano (R$ 17.94) é maior que o do torcedor são-paulino (R$ 17.88), embora aí a diferença seja pouca.
(Fonte: Pluri Consultoria)

 Acho que agora fica claro por que você tende a ver na TV jogos do Corinthians mais do que de qualquer outro time.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Porque São Paulo precisa de um super-aeroporto

Em minha recente viagem tive 3 horas de escala em Chicago. Como ocorre toda vez que passo por lá (ou por Atlanta), me perguntei "por que São Paulo (ou, o Brasil) não tem um aeroporto assim? Não seria razoável construir um desse tamanho ou adicionar um super-terminal como fez a China?"

Bom, acho que o primeiro passo para tentar entender o porquê é saber, por exemplo, quão maior é o aeroporto de Chicago (ORD para os íntimos) em relação a Guarulhos (GRU). Os sites da Wikipedia (ORD e GRU) nos dão uma ajuda:
  • Em 2011 passaram por ORD cerca de 70 milhões de passageiros enquanto que em GRU o número é da ordem de 30 milhões. Isso faz de ORD o 4o. mais movimentado no mundo, enquanto que GRU não entra nem nos top 30.
  • ORD tem 7 pistas, 4 delas construídas com concreto (mais resistentes) enquanto que GRU tem apenas duas pistas de asfalto.
  • ORD tem, na prática, 5 terminais com 182 portões de embarque. GRU tem 2+1 terminais com 61 portões.
"Ok, então o aeroporto de Chicago é grande", você pode dizer. "Mas nós precisamos de um aeroporto assim? Há demanda para um aeroporto desse porte para justificar o investimento?" Os números falam por si:

Número de passageiros por ano (em milhões):
Ano Chicago O'Hare Guarulhos
2003 69.511.6
2004 75.512.9
2005 76.615.8
2006 76.315.7
2007 76.218.8
2008 70.820.4
2009 64.421.7
2010 67.026.7
201170 (est)30.0


Enquanto que o volume de passageiros permaneceu estável em ORD em torno de 70 milhões, em GRU o volume simplesmente triplicou em uma década! Não é à toa que a rodoviária de SP pareça menos cheia do que GRU em um dia movimentado.

Nesse ritmo de crescimento (ou até mesmo um ritmo menor), é bem razoável supor que, sim, precisamos urgentemente de um aeroporto que comporte com tranquilidade um volume de, pelo menos, 50 milhões de passageiros por ano. E isso sem falar em Copa ou Olimpíada.

terça-feira, 6 de março de 2012

Diário de Viagem: APS March Meeting 2012

Estou de volta do APS March Meeting, em Boston.

Alguns highlights:

- O primeiro dia foi marcado por uma concorrida sessão de "invited talks" em isolantes topológicos. Mais especificamente, a busca por fermions de Majorana em sistemas de matéria condensada.

Eu cheguei um pouco antes da sessão e consegui um lugar num dos cantos da sala. Bom para mim porque a sala ficou completamente lotada. No seminário mais aguardado, o de Leo Kouwenhoven (Delft), a lotação era tanta que o pessoal ocupava qualquer espaço disponível (vi pelo menos dois professores de Harvard sentados no chão perto do palestrante!).

Kouwenhoven não decepcionou: depois de apresentar vários dados, seu último slide perguntava: "Did we find Majorana fermions? The answer is a cautious... yes." E a sala irrompeu em aplauso.

O interessante é que o grupo de David Goldhaber-Gordon em Stanford já havia postado no arXiv um paper em que revelavam assinaturas de Majorana fermions em junções Josephson com supercondutores e isolantes topológicos. Será interessante comparar os dois papers.

- Vi várias sessões de grafeno também. A moda agora são substratos (ou até heteroestruturas) usando Nitreto de Boro hexagonal. Pelo fato de terem parametro de rede e simetria parecidos com grafeno, esses subtratos são bem melhores que os de oxido de Silício tradicionais, especialmente em termos de reduzir os efeitos de disordem nas propriedades eletrônicas do grafeno.

- Mas isolantes topológicos dominaram a cena. Na concorrida sessão do Buckley prize, tivemos seminários convidados dos "hot shots" do momento: Charles Kane (University of Pennsylvania), Laurens Molenkamp (Wurzburg) [que, por sinal, veio ao Brasil em maio] e Shou-Cheng Zhang (Stanford).

***
O lugar: Apesar do frio, Boston é uma cidade muito charmosa e elegante. O sistema de metrô é eficiente, apesar de antigo (para quem está acostumado com a linha amarela em SP, os trens e Boston parecem ter saido da década de 30!). Por exemplo: metrô é o meio mais eficiente para ir e vir do aeroporto. Algo a se pensar, já que pode-se gastar 5 horas para chegar da USP ao aeroporto de Guarulhos em um dia de tráfego mais intenso...

No geral, é uma cidade bastante cosmopolita, com algumas das melhores universidades do mundo (embora, tecnicamente, Harvard e MIT fiquem em Cambridge, Massachusetts, algo que os habitantes de Cambridge fazem questão de lembrar) com inúmeras opções de restaurantes (frutos do mar são a especialidade). Bastante agradável, mesmo para quem não está acostumado a neve em Março...