O mês de maio foi bastante agitado em termos de viagens. Duas das mais importantes conferências em Matéria Condensada no Brasil foram realizadas uma após a outra, ambas no estado de São Paulo e com palestrantes de primeira linha.
A primeira foi o
Brazilian Workshop of Semiconductor Phyiscs, em Itirapina (região de São Carlos e Brotas). Destaque para os trabalhos em
isolantes topológicos. Vieram pesquisadores internacionais de ponta nessa área como o "papa do efeito Hall de spin quântico"
Laurens Molenkamp (de Würzburg, que, aliás, gosta muito de vir ao Brasil), além de Michael Furher (antes em Maryland, agora na Australia), Nitin Samarth (cujos grupos têm obtido resultados experimentais bastante relevantes em transporte em isolantes topológicos 3D) e
Gennady Gusev, colega do IF-USP, um dos poucos físicos experimentais brasileiros trabalhando na área e que tem produzido excelentes trabalhos em isolantes topológicos 2D.
Eu dei um
seminário sobre efeito Kondo em grafeno desordenado (colaboração com o Vladimir Miranda e o Caio Lewenkopf da UFF). Por sinal, esse trabalho foi motivado por um experimento do próprio Michael Furher, que mostra assinaturas típicas de efeito Kondo em grafeno irradiado. Nessa mesma linha, me chamou a atenção o seminário do
Jaroslav Fabian (Regensburg), que discutiu contribuições para o tempo de relaxação de spin em grafeno.
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Na semana seguinte, tivemos o tradicional
Encontro Nacional de Física da Matéria Condensada, já na sua 36a edição. Como tem ocorrido nos últimos anos, foi realizado em Águas de Lindoia, uma agradável cidade localizada em uma ramificação da Serra da Mantiqueira, proxima à divisa entre São Paulo e Minas Gerais.
Foram várias palestras excelentes. Na área de supercondutividade, me chamou a atenção o seminário do
Rafael Fernandes, jovem professor brasileiro na Universidade de Minnesota. Ele falou sobre seu trabalhos recentes em
supercondutores à base de ferro, um assunto que meu antigo grupo tem pesquisado bastante. Também gostei do seminário do
Stefan Blügel (Julich), com quem tive várias conversas em torno de como conciliar Teoria do Funcional Densidade (DFT) e Efeito Kondo (será possível??).
Vale destacar ainda as presenças de Dan Shechtman, ganhador do prêmio
Nobel de Química em 2011 pelo seu trabalho em quasi-cristais (uma história bonita de
persistência mesmo enfrentando fortes críticas) e, novamente, de Laurens Molenkamp (que participou das duas conferências e ficou quase duas semanas no Brasil).
Os lugares:
A grande atração da BWSP ficou por conta do rafting em
Brotas/SP. Imagine 60 físicos em botes descendo corredeiras. Esse é o resultado:
Já
Águas de Lindóia é bastante agradável e tive a oportunidade de passear pelo centro. Recomendo
o parque no centro da cidade, ótimo para corridas (ou caminhadas) matinais. Uma visita ao
Cruzeiro ou uma esticada até cidades próximas como Monte Sião também valem a pena, segundo me disseram.