segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Centenários na Bahia

Curioso: aparentemente, o lugar-comum de que viver no "ritmo baiano" faz bem à saúde (e à longevidade) é consistente com os dados preliminares do censo do IBGE. ;)

No Globo:
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"Até o levantamento atual do Censo, ainda não concluído, na população com mais de 100 anos de idade, há 17.615 pessoas. No total registrado no país em 2000, havia cerca de 14 mil pessoas com mais de um centenário de vida. O maior número absoluto de pessoas com essa idade foi registrado na Bahia, onde foram contadas até agora 2.473 pessoas com mais de 100 anos de idade."
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No Estadão:

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"Os dados preliminares do Censo 2010 apontam que a Bahia é o Estado com maior número de centenários, com 2.473. Roraima tem o menor número, apenas 21.

'A Bahia é um caso interessante, porque embora tenha uma população menor em termos absolutos, a proporção de pessoas com mais de 100 anos é maior', disse Nunes, ao comparar a população baiana com a de Estados maiores, como São Paulo, por exemplo. Os últimos levantamentos do IBGE apontam que a Bahia tem 14 milhões de moradores, e Roraima 400 mil"

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domingo, 12 de setembro de 2010

A Física do chute: de Pelé a Roberto Carlos

Na semana passada, me chamou a atenção a publicidade em torno de um artigo publicado pelo "New Journal of Physics" que, segundo a mídia , "desvenda o segredo de gol de Roberto Carlos"(vide, por exemplo, reportagem de "O Globo"). O artigo foi tema de vários sites de divulgação científica, como o "Weekly Newsbrief" da American Physical Society e no blog da Scientific American. Em suma, um sucesso de "Relações Públicas" dos autores e do "New Journal of Physics".

Como é de praxe nesses casos, o artigo em si é bem menos bombástico do que a mídia em torno dele. É um artigo relatando medidas feitas em laboratório (e não em um campo de futebol) com bolinhas de polipropileno de alguns milimetros de diâmetro sendo atiradas em um recipiente com água e os autores mediram velocidade,
velocidade angular e a trajetória subsequente. Nada de medidas com bolas de futebol ou coisa do genêro. Na verdade, a referência ao gol do Roberto Carlos só aparece no finalzinho, antes das conclusões, e apenas de forma especulativa. Ou seja, a frase que abre a matéria do Globo ("Um dos gols mais incríveis da história do futebol, marcado pelo lateral esquerdo Roberto Carlos pela seleção brasileira há 13 anos, foi tema de um estudo feito por físicos na França") é um tanto exagerada.

Comentando o assunto
em um recente boletim da Sociedade Brasileira de Física, o prof. Paulo Murilo Castro de Oliveira (UFF) menciona um artigo publicado em uma revista brasileira sobre o mesmo assunto. O artigo, publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física (RBEF) em 2004, analisa o famoso "gol que Pelé não fez" no jogo contra a Tchecoslováquia na Copa de 1970. Os autores, prof. Carlos Eduardo Aguiar e Gustavo Rubini (UFRJ), analisam as imagens do gol e fazem uma discussão interessante em torno de um modelo físico e uma simulação computacional relativamente simples que explicaria a trajetória da bola.

A Física por trás dos chutes

Embora não seja minha área de pesquisa, gostei muito de ler os dois artigos no final de semana. Afinal, misturam Física e futebol, uma combinação perfeita para a proposta desse blog :).

Ambos os artigos discutem dois elementos básicos de dinâmica dos fluidos que influem na trajetória de uma bola de futebol: a força de arrasto (e sua
dependência com a velocidade da bola) e o "efeito Magnus", a força de sustentação (perpendicular à velocidade) devido à rotação da bola.

A manifestação do efeito Magnus é evidente para qualquer um que viu grandes cobradores de falta (como Zico, Rivelino, Neto, Marcelinho Carioca, Ronaldinho...) em ação: é a força que "curva" a trajetória da bola pelo fato de ela estar rotacionando em torno do próprio eixo.

Já os efeitos de arrasto são um pouco mais sutis em futebol (embora sejam dominantes em esportes como golfe e tênis). Em particular, é de se notar a chamada "crise do arrasto", uma súbita diminuição da resistência do ar quando a velocidade da bola (ou, mais especificamente, seu número de Reynolds) passa de um certo valor crítico. O valor da velocidade crítica para bolas de futebol depende dos detalhes da superfície da bola mas, de modo geral, está próximo a 20 m/s. Chutes fortes (em torno de 30 m/s) podem então ultrapassar esse valor.

É interessante notar que a velocidade crítica para a (mal-)afamada bola Jabulani é aparentemente diferente do que a encontrada em bolas de futebol típicas (vide esse link), o que pode contribuir para o seu comportamento "sobrenatural" e à avalanche de críticas que recebeu.

A ação conjunta do arrasto e do efeito Magnus faz com que a trajetória da bola possa ser não usual (ou "sobrenatural", como diria Luiz Fabiano, descrevendo a Jabulani), diferente do que a trajetória um goleiro profissional esperaria. Isso explicaria, segundo os autores do artigo da RBEF, o quase gol de Pelé
e até a famosa "folha seca" de Didi. Os autores do artigo do NJP atribuem o gol do Roberto Carlos à uma trajetória espiralada, onde o raio de curvatura diminui à medida em que a bola se aproxima do gol.

Agora, isso fornece a explicação mas não promete uma "fórmula" para qualquer um dar um chute perfeito: isso ainda requer muito, muito treino e, obviamente, talento.

Update: Um artigo na Physics World de 1998 também dá uma boa introdução ao assunto.

Update II (Nov/2010): amigo desde os tempos de Unicamp, o prof. Adilson Motter (Northwestern University), nota que o 4o. gol do Grêmio na vitória sobre o Ceará no Campeonato Brasileiro de 2010 poderia ser incluído na lista de gols originados pela crise do arrasto. Ele é
gremista, obviamente.

domingo, 5 de setembro de 2010

Alguns links interessantes

"What to do with a degree in physics"
http://www.guardian.co.uk/money/2010/aug/07/what-do-with-degree-physics

("O que fazer com um diploma em Física?")
Essa pergunta está na cabeça de muitos ingressantes em cursos de Física mundo afora. Essa matéria do "The Guardian", embora mirada no público inglês, descreve algumas possibilidades de carreira que graduados em Física podem seguir, sobretudo no setor privado. Muitos não se dão conta que físicos possuem habilidades valiosíssimas no mercado de trabalho como a capacidade de resolver problemas novos e a de pensar criativamente, além de uma familiaridade grande com matemática, estatística e, claro, computação.

É importante difundir a concepção de que físicos não são apenas preparados para carreiras acadêmicas mas que possuem um diferencial para atuar em diferentes áreas, desde setores da indústria de alta tecnologia e até mesmo o mercado financeiro.


"Betting on science - Odd and ends"
http://www.economist.com/node/16690715

(algo como "Apostando em quinquilharias científicas")
Casas de apostas são bastante comuns na Inglaterra. Nelas, você pode apostar em tudo: desde o resultado do próximo jogo do Manchester United até... quando (e se!) o Higgs será encontrado! Ou onde o próximo terremoto irá ocorrer.

"Physicists get political over Higgs"
http://www.nature.com/news/2010/100804/full/news.2010.390.html

(algo como "A política em torno do Higgs")
Se o Higgs for descoberto pelo LHC, é quase certo que um premio Nobel será entregue... mas a quem? Aparentemente, existe uma discussão sobre quem deve ter o crédito principal sobre a primasia da teoria do "mecanismo de Higgs".

Pelo menos seis cientistas poderiam reinvindicar um direito legítimo de "paternidade" sobre a teoria mas, como o número máximo de recipientes do prêmio Nobel é três, alguém vai ficar de fora. E isso é uma receita certa para uma briga política sobre "quem fez o quê e quando" em relação ao Higgs.

Primeiro Post

Muito bem, vamos ao primeiro blog post (e obrigado pela audiência!).

Meu nome é Luis Gregório Dias, tenho doutorado em Física pela Unicamp e atualmente sou professor no Instituto de Física da USP (mais detalhes na minha página profissional.).

A idéia de escrever um blog sobre Física, questões acadêmicas e assuntos diversos surgiu durante meus pós-doutoramentos nos EUA (2004-2010) e tem amadurecido já há algum tempo, Posso dizer que a inspiração vem de vários blogs escritos por físicos que leio com freqüência, principalmente o "Nanoscale Views", muito bem escrito por Doug Natelson (professor da Rice University) e o eclético "Exponential Book" de Massimo Boninsegni, professor da University of Alberta e fanático torcedor da Sampdoria. Além desses, sigo vários blogs anônimos, como o "Incoherent Scattered Ponderings" e o já inativo "I postdoc therefore I am" escrito por Schullup (a quem acabei conhecendo na vida real e é uma ótima pessoa!).

Com isso, nasceu a idéia de fazer um blog de Física em Português, nesses moldes, mas mais voltado ao público brasileiro e latino-americano. Tenho em mente algo mais ou menos assim: vários posts serão sobre vida acadêmica em geral, de interesse a alunos, professores, etc. Alguns posts serão mais técnicos, destinados a físicos ou alunos de Física (por exemplo, tópicos de pesquisa em Física). Muitos outros serão sobre temas cotidianos (futebol entrará na pauta de vários!), acessíveis mesmo para quem o contato com a Física tenha se restringido àquelas aulas no ensino médio ou no cursinho.

Obrigado pela leitura e espero que vocês aproveitem.