sábado, 26 de novembro de 2011

Semana agitada no IF-USP

A semana que passou foi agitada em termos de seminários/homenagens no Instituto de Física da USP.

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Na segunda-feira, houve o I Encontro Mário Schenberg, em homenagem aos 70 anos do prof. Nei Fernandes de Oliveira Jr. Foi um dia de seminários de ex-alunos e colaboradores que comentaram sobre vários momentos na carreira do prof. Nei, uma figura muito querida e respeitada aqui no instituto.

Interessantes foram os relatos de como era fazer Física no Brasil no início dos anos 60. Comparado à estrutura que temos hoje, pesquisa em Física naquela época era para para quem "não tem medo" (como disse o próprio prof. Nei). Um tempo em que gente do calibre de Mário Schenberg, Oscar Sala, José Leite Lopes, César Lattes, etc. colocaram programas de pós-graduação em pé partindo praticamente do nada.

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Ainda na segunda-feira, um seminário interessante: a Física do velejar. O prof. Philippe Gouffon, ele próprio um velejador experiente, fez um relato interessante sobre a Física do que ocorre acima e abaixo da água fazendo com um veleiro possa ir tanto em um ângulo "contra" o vento ("orça") ou até mesmo se deslocar 3 a 4 vezes mais rápido (!) do que ele. E para quem acha que velejar é sinônimo de andar devagar, que tal um veleiro andando a mais de 90 km/h?

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Na terça, tivemos uma visita ilustre: o prof. William (Bill) Phillips, um dos ganhadores do prêmio Nobel de Física de 1997, ministrou um colóquio sobre condensados de Bose-Einstein para um auditório lotado. Até a imprensa "normal" deu destaque à visita do prof. Phillips ao Brasil (a reportagem relata um outro seminário, esse de demonstrações).

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Na quarta, o prof. Raimundo Rocha dos Santos (UFRJ) deu um seminário bastante didático sobre os supercondutores de alta temperatura crítica (tema de um post anterior desse blog). O seminário faz parte da série "Convite à Física" que tem por objetivo colocar temas atuais de Física em uma linguagem coloquial e acessível ao público em geral.

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Na quinta... bom, na quinta meu dia foi tomado pela última prova do curso de Física II na Poli. Dia agitado também, mas um agito de outra natureza.

sábado, 19 de novembro de 2011

Qual PM queremos na USP?

Passado quase um mês do início da polêmica envolvendo estudantes, Polícia Militar, administração da universidade, mídia, acho que é possível ter um panorama geral do que ganhamos e do que perdemos nesse processo.

Particularmente, acho que nós da comunidadade "USPiana" perdemos (ou estamos perdendo) uma grande oportunidade de fazer aquilo que se espera da academia: propor soluções inovadoras para problemas de interesse da sociedade. No caso, segurança pública, um tema que invariavelmente aparece como uma das principais preocupações da sociedade em pesquisas de opinião. Acredito que seja papel da Universidade pensar estratégias de segurança pública, inclusive discutir o papel da Polícia Militar (e Civil) na sociedade e, talvez, tentar influir e mudar as práticas e vícios dessas corporações.

Paradoxalmente, é um tema em que a Universidade brasileira nem sempre teve a influência que cabe à academia (como ocorre em outros países). Acredito que isso se deve, justamente, a um distanciamento entre a academia brasileira e os agentes de segurança pública, ainda reflexo das relações conturbadas que datam do tempo da ditadura militar brasileira.

Em um post anterior, escrito bem antes da confusão de Outubro, eu havia comentado que a questão não é tanto "se" a PM vai ter uma presença no campus (que, bem ou mal, é aprovada pela maioria da comunidade da USP) mas sim em "como" trazer a PM ao campus. O "como" é crucial. Acho que o convênio com a PM pode e deve ser aproveitado para que a comunidade acadêmica e, talvez, a própria sociedade se beneficiem disso. Ao fazê-lo, é razoável que o convênio exija alguma contrapartida em termos de mudanças na atuação e estrutura da Polícia Militar.

Vejo esse convênio USP-PM como uma oportunidade para a própria universidade exercer um papel "transformador" e testar, nela própria, políticas de segurança pública inovadoras. Por exemplo, por que não utilizar esse convênio como instrumento para criar, na própria PM, um grupo de policiais com "formação compatível com direitos humanos" e com policiais femininas "capacitadas para o atendimento de vítimas de assédio sexual e estupro" para que atuem dentro da USP?

Os termos em aspas acima foram tirados de um manifesto do DCE da USP. São pontos que, claramente, poderiam ter sido discutidos durante a ocupação da reitoria. Infelizmente a oportunidade de discutir os termos no convênio foi rechaçada pelo pessoal da combinação PCO+MNN+LER-QI que liderou a ocupação. Por quê? Pela mentalidade "PM fora ou nada" que serve, muito bem, à extrema esquerda (grupos que consideram o PSOL ou PSTU como "direita").

Por outro lado, a administração da USP tem tido pouco tato para ouvir a comunidade acadêmica e tentar mudar as táticas da PM. Por exemplo, a operação de reintegração de posse do prédio da reitoria foi um "sucesso tático-militar" (na linha "shock and awe", com os invasores presos e sem ninguém ferido) mas um fracasso em termos da postura que se espera da administração da Universidade. Passou a imagem (talvez verdadeira) que o poder de decisão sobre as ações a serem tomadas em uma questão com forte componente político foi deliberadamente transferido pela administração da USP ao comando da tropa de choque.

O convênio USP-PM deveria ter, como fim, que a PM na USP seja uma PM diferente, mais moderna. A idéia de um "policiamento comunitário" que tem sido colocada vai nessa direção mas acho que a USP pode ter um papel mais ativo nessa questão: participação (e voz) nas decisões de estratégia/horários/foco de patrulhas dentro do campus; demandar que o comando esteja nas mãos de oficiais da PM com alguma formação na USP (se esses não existem, taí uma boa oportunidade de criar um convênio USP-Academia do Barro Branco); introduzir tecnologias/inovação geradas na USP dentro da polícia (detectores infra-vermelho, novas técnicas de perícia, etc.) além de outras iniciativas como apoio a ações sociais por parte dos estudantes, por exemplo, na comunidade São Remo (tenho certeza que as crianças e adolescentes de lá se beneficiariam com aulas extras de História, Filosofia, Química, Física, Matemática...).

[Update: soube que essa última idéia já está em discussão.]

No entanto, vejo que, infelizmente, estamos perdendo a oportunidade de avançar nisso. A discussão está cada vez mais polarizada e politizada, na base de jargões com "Fora PM/Fora Rodas" (ou, em uma forma mais sofisticada, "abaixo a militarização do campus") versus "pau nos maconheiros e tudo pela segurança". São posições confortáveis para quem carrega o mesmo discurso e os mesmos estandartes há décadas. Alguns bons artigos (como esse) discutiram esse ponto sem cair na armadilha da mentalidade "binária" que invariavelmente permeia esses assuntos.

Pragmaticamente, essa polarização toda acaba fomentando mais do mesmo e nos leva mais longe do resultado que eu considero ideal: a PM que eu gostaria de ver na USP é uma PM mais moderna, inteligente e humanizada justamente por ter sido submetida ao contato com o ambiente acadêmico.