segunda-feira, 4 de julho de 2011

Segurança na USP

A trágica morte de um estudante da FEA em 18 de maio passado teve grande repercursão dentro do campus da USP em São Paulo. Me parece que isso foi um daqueles momentos em que a comunidade universitária "acordou" para uma realidade de insegurança que tantos paulistanos vivem diariamente. Com isso, a idéia de ter algum tipo de presença permanente da Polícia Militar no campus, antes um tabu, já está virando um consenso. Na verdade, os dados mostram uma queda acentuada no número de ocorrências desde que o policiamento no campus foi reforçado.

A grande questão não é se teremos a PM no campus mas sim como fazer isso de forma que essa presença seja eficiente em termos de segurança e, ao mesmo tempo, leve em consideração as peculiaridades de policiamento em um ambiente universitário.

Isso por que, do ponto de vista de um gestor de segurança, um campus universitário é um ambiente complexo: não é uma área nem residencial e nem comercial ; não há uma uniformidade de idade, classe social ou renda entre os três grupos que formam a USP (alunos, professores e funcionários); há tanto um fluxo de pessoas "de passagem" pelo campus como uma comunidade que mora (os alunos que estão no CRUSP), estuda e trabalha ali . Nesse ambiente, ações preventivas são, em geral, mais eficientes do que ações repressivas.

O desafio desse tipo de policiamento ocorre também em outros países: nos Estados Unidos, por exemplo, as universidades contam com uma "campus police" com poder de polícia mesmo (não são apenas seguranças), sendo que os policiais são orientados e preparados a lidar com os desafios dentro de um ambiente de estudantes. Lá, por exemplo, uso de bebidas e drogas é um caso emblemático: ações preventivas ("educativas") e repressivas são usadas em conjunto dentro de um plano mais amplo de segurança no campus, dentro das características do ambiente universitário. Aqui o foco deve ser outro, com maior atenção a crimes como roubos e sequestros-relâmpago (aliás, não faltam críticas aos "maconheiros" da USP, como se o consumo de maconha ali fosse maior do que em outros lugares com grande concentração de jovens e isso fosse uma explicação para a falta de segurança no campus...).

Por fim, me parece bem interessante a proposta de se criar um "Pelotão Universitário" da PM, formado por policiais e oficiais que sejam alunos ou ex-alunos dos cursos de graduação e pós-graduação da USP. Se bem implementada, todos tem a ganhar com algo assim: a USP teria um corpo de policiais que conhece o campus e o ambiente acadêmico e PM teria um canal para melhorar a formação dos seus soldados e oficiais, de modo que toda a sociedade ganhe.

5 comentários:

  1. bom, vamos separar.
    1 - a usp precisa de segurança. pm's não são a única forma de segurança. eu me recuso a acreditar na ironia de um reduto de cérebros não conseguir resolver juntos esse tipo de problema. é complexo, mas é subestimar a fflch falar que "tem crime? polícia!" é a única opção - vc começou falando em "como e não se", e eu penso que isso é extremamente precipitado.

    2 - eu estudei na usp 2 anos. eu sei de onde vêm as drogas. se eu, um mero dropper, sabe isso, acho ingênuo pensar que a reitoria não sabe. e isso é apenas o começo do novelo, por que na verdade o crime ligado ao tráfico diretamente nunca chegou à usp. o que eu estou dizendo é que vc perde tempo se preocupando com isso localmente, quando se pretende atacar problemas graves de segurança. assim, "colocar polícia light com drogas" lá seria, além de absolutamente irreal considerando os quadros atuais de segurança pública, algo mais do que inútil se a gente está acontecendo eventos tipo "law and order svu" lá dentro.

    3 - eu, que não sou um grande cérebro, sei que uma das coisas que inibe o crime é lugares públicos agradáveis, onde as pessoas gostem de ficar e, portanto, vão estar circulando. isso é segurança passiva. a simples agradabilidade do lugar faz as pessoas irem até ele e isso, por si só, o torna seguro. eu não dropei da fau, mas, sei lá, acho absurdo que ao lado dela, ao lado de uma academia de arquitetos do maior nível, a gente tenha como alternativa de ambiente algo como a praça do relógio. vc sabe do que eu estou falando. é um lugar que repele a presença. um pátio de concreto com árvores pingadas, bem separadas. bancos que não estão sob estas raras árvores. o que eu não acho absurdo é que uma professora da eca tenha sido estuprada embaixo de uma dessas árvores às 2 da tarde num sábado. porque aquilo é perfeito pra isso, do modo que foi desenhada.

    4 - existe uma favela colada no terreno da usp, a são remo. quando a ocupação dela ameaçou os limites do terreno da universidade (aquele lugar que é finaciado pelo icms do feijão daquela gente) eles ergueram um muro, que tem uma porta ridícula, que permite a passagem praquela outra dimensão. volto a dizer: a fau é ali, a fflch é ali, os cérebros estão ali. será que não seria uma ótima oportunidade pra dar um exemplo e, tipo, encarar o problema como gente grande? não aceito argumento de grana, ainda que o psdb tenha enterrado a educação em todo nível de governo que teve, porque os cérebros estão lá. e cérebros podem pensar como resolver problemas com obstáculos. podem resolver problemas assim, inclusive. mas ergueram um muro. sério? um muro?

    5 - existe uma diferença entre as universidades que têm subpoliciais e a nossa, mas não é o sistema de segurança. a diferença entre elas é que no sistema de lá, mesmo lotado de fundamentos discutíveis, é possível que gente de culhões seja premiada por ter culhões. e aqui ninguém tem culhões e, quando isso acontece, não chega a ser premiado. é muito mais fácil empilhar tijolo que mexer num sistema burocrático-funcional cheio de buracos inadmissíveis, do que peitar o problema, assoviar e chamar todo mundo na praça e começar alguma coisa. dá trabalho. tem risco, depende de habilidade política. e, antes de tudo, de culhões, a matéria mais escassa por ali, na reitoria ou no governo estadual, no caso da usp.

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  2. Shmoo, você coloca bons questionamentos. Concordo com alguns e discordo de
    outros. Seguem comentários sobre os seus comentários:

    1 - É possível encontrar uma de segurança eficiente que seja alternativa a
    alguma presença da PM no campus? Talvez, mas não em um prazo curto. Na verdade, soluções assim tem sido adotadas desde o final dos anos 60 e, ao meu ver, todas essas tentativas esbarram em um mesmo problema: em uma cidade como São Paulo, uma zona "livre de polícia" automaticamente vira uma zona vulnerável.

    Cérebros existem em toda a parte, inclusive dentro do crime, e esses percebem que um roubo ou sequestro-relâmpago em uma área onde há pessoas de classe média e média-alta e apenas seguranças desarmados fazendo ronda tem uma relação risco/ganho favorável.

    Assim, acho mais produtivo usar os cérebros da USP para resolver o verdadeiro nó da questão: o que torna a presença da PM no campus algo que suscita tantas reações emotivas? O histórico de relações conflituosas regadas a cassetetes de borracha e gás lacrimogênio? O despreparo e truculência de alguns policiais? O sensação que a Universidade está, de algum modo, "sacrificando sua autonomia"? Uma combinação de tudo?

    Por mais que haja uma "carga emocional" nesse debate, eu acho que os "cérebros" da USP devem prevalecer e colocar essa discussão em pauta. Acredito que é menos difícil equacionar essas questões e convergir a uma solução que envolva algum tipo de presença da PM no campus do que tentar "mais do mesmo". Esse é o espírito do meu post. Será um caminho tortuoso. Afinal, a solução começa, necessariamente, por uma mudança de atitude dos dois lados.

    2 - eu estudei na usp 2 anos. eu sei de onde vêm as drogas. se eu, um mero dropper, sabe isso, acho ingênuo pensar que a reitoria não sabe. e isso é apenas o começo do novelo, por que na verdade o crime ligado ao tráfico diretamente nunca chegou à usp.

    Concordo. É por isso que acho que os problemas de segurança como roubo de carros, furtos, sequestros-relâmpago, estupros e outros "Law & Order SVU" devem ser priorizados. Note que isso é mais fácil de fazer (por exemplo, via ações preventivas, rondas, monitoramento 24hs, resposta rápida a chamados) do que desmantelar organizações de distribuição de drogas, particularmente enquanto existir um mercado consumidor dentro da USP. Ocorre que, fazendo o primeiro, o segundo fica mais fácil.

    3 - uma das coisas que inibe o crime é lugares públicos agradáveis, onde as pessoas gostem de ficar e, portanto, vão estar circulando.

    Aqui concordamos também. Uma revitalização do Campus com certeza traria benefícios em vários níveis, inclusive na segurança. Poderíamos aproveitar e colocar ciclovias e calçadões para também melhorar o trânsito e a convivência dos carros com os ciclistas/esportistas.

    Ocorre que ter "lugares públicos agradáveis", com pessoas circulando ajuda mas, por si só, não inibe o crime. Vide os arrastões em plena praia de Ipanema nos anos 90. Ou os assaltos a joalherias nos Shoppings Morumbi e Cidade Jardim há alguns anos.

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  3. (cont).
    4 - A presença da São Remo ao lado do campus é, de várias formas, emblemática. É uma síntese dos contrastes gritantes desse país. A maior universidade pública do país fica, ao mesmo tempo, tão longe e tão perto ;) dos moradores de lá, que, sim, nos sustentam com seu ICMS. E esse é apenas um dos contrastes que ocorrem em São Paulo (por exemplo, vide essa foto famosa).

    De fato, a USP poderia sim tentar algo melhor do que colocar tijolos no muro. Porém, mesmo que a São Remo não existisse e o entorno da USP fosse algo como Barão Geraldo, não acredito que a situação de segurança seria muito diferente. Não há como "blindar" a universidade da realidade de uma cidade como São Paulo, na qual ela está inserida.

    5 - dá trabalho. tem risco, depende de habilidade política. e, antes de tudo, de culhões,

    Culhões são sempre necessários para enfrentar problemas difíceis e, sim, tem estado em falta. Mas estou otimista: acho que nós (a comunidade USP, na qual me incluo) já nos acovardamos demais e a hora é de tentar alguma coisa.

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  4. Hm, written Portuguese is understandable enough, but I admit that I did give up after the post, because the comments are LOOOOOOONG!

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  5. Yes, loong comments! Police presence on University campi is a rather controversial topic here. We tend to get carried over...

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