quinta-feira, 7 de abril de 2011

The Joy of Stats

Meu amigo Roberto Belisário escreveu um post bastante interessante no blog "Ciências e Adjacências" sobre um vídeo feito pelo médico/estatístico sueco Hans Rosling.

O vídeo é um extrato de "Joy of Stats", um trabalho de divulgação sobre estatística muito bem feito e bastante interessante. Para o público leigo, bastante diversão. Para quem sabe um pouco mais sobre dados e estatísticas, cabe um olhar mais crítico...

No video, o Prof. Rosling coloca em um gráfico animado dados sobre a expectativa de vida (eixo vertical) e o PIB per capita (eixo horizontal) para vários países. Reunindo dados desde 1810 até 2009, ele faz uma interessante animação mostrando como esses dados variam com o tempo.

Até aí, tudo ótimo e muito didático. O problema é: o que concluir desses dados? O Prof. Rosling tende a ver os dados como positivos: os países estão "indo para o canto superior direito", ou seja maior renda e maior expectativa de vida indicando um futuro promissor.

Ocorre que, sem entrar no mérito da qualidade/confiabilidade dos dados em si (por exemplo, o site Gapminder que guarda os dados diz expresamente que "Data before 1900 is highly uncertain"), você pode usar os mesmos dados para argumentar que, na verdade, as coisas não estão caminhando tão bem assim: a diferença de renda entre os países mais ricos e mais pobres está aumentando com o tempo. Pior: está provavelmente aumentando exponencialmente com o tempo!

Como notou Belisário, o eixo horizontal no vídeo está em escala logarítmica. No site do Gapminder é possível brincar bastante e até fazer o mesmo filme com uma escala linear no eixo x.

Aí o argumento que as coisas não estão indo tão bem passa a ser visual. Vemos que a diferença de PIB per capita entre países ricos e pobres em 2009 é cerca de 20 vezes maior do que em 1810, numa evolução claramente exponencial com o tempo.

Além disso, os países não tendem ao canto superior direito em 2009 mas sim ficam em um arco (veja na figura ao lado), com um grande número de países no canto superior esquerdo (com vida longa mas pobres).

Outro ponto que pode ser pensado: maior renda média (ou PIB médio) é necessariamente um sinal de desenvolvimento humano? Não se essa renda extra está concentrada nas mãos de muito poucos ou se esse aumento no PIB vem com custos sociais altos. Países como Nigéria, Libéria e Serra Leoa são casos onde a descoberta de recursos naturais (petróleo, diamantes, minérios...) levou a um aumento do PIB por um lado mas a efeitos colaterais gravíssimos na sociedade (instabilidade política, guerra civil e até genocídio!) por outro. É a chamada "maldição dos recursos".

Enfim, esses papos sobre estatística me lembram a história do velhinho que, quando fez 90 anos, entrou numa loja de sapatos e pediu "um sapato do mais caro, pra durar mais uns 20 anos". O vendedor, educadamente, pergunta ao velhinho porque ele fazia questão de um sapato que fosse durar tanto. No que o velhinho respondeu: "É que, segundo as estatísticas, apenas uma pequena minoria das pessoas morrem depois dos 90 anos".

Update: a discussão continua: no Ciências e Adjacências (posts II e III da série) e também no Gene Repórter.

4 comentários:

  1. Como comentei no outro blog, se paises crescerem no mesmo ritmo (exponencialmente), se eles ñ forem iguais, a sua diferença vai aumentar exponencialmente, onde esta o problema com isso?

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  2. O que ocorre é que os dados mostram que o PIB per capita dos países não cresce no mesmo ritmo: o ritmo (ou a taxa de crescimento) de alguns países é maior. Não por acaso, esses são, em sua maioria, os países com maior PIB per capita, de modo que mesmo a desigualdade *relativa* entre os países cresce exponencialmente.

    Ou seja, o mundo não está indo "uniformemente" para canto superior direito como sugere Rosling: apenas alguns países estão seguindo essa trajetória. Quem mora em um desses países não vê problema nenhum nisso. Agora, se você não mora em um desses países, o seu "problema" é grande: a sua chance de ter um padrão de vida digno fica menor com o passar do tempo.

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  3. Eu ñ entendo pq vc faz tanta questão de levar em consideração o desenvolvimento dos outros paises, o mais importante é desenvolver um pais o maximo possivel, ñ importando o qnt os outros paises estejam se desenvolvendo.

    É o mesmo q vc estudar se preocupando em como os seus colegas estão estudando, ñ interessa oq eles estão estudando, importa q vc estude.

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  4. Eu ñ entendo pq vc faz tanta questão de levar em consideração o desenvolvimento dos outros paises. o mais importante é desenvolver um pais o maximo possivel, ñ importando o qnt os outros paises estejam se desenvolvendo.

    O próprio Prof. Rosling discordaria dessa afirmação. O ponto central do seu vídeo é que, levando em conta a expectiva de vida e renda per capita, os países, como um todo, estão evoluindo, o que é bom para todos.

    O objetivo do meu post foi simplesmente fazer uma análise dos mesmos dados e apontar inconsistências com a interpretação apresentada por ele.

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