sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ig-Nobel 2011

Saiu a lista dos ganhadores do Ig-Nobel 2011.

O prêmio de Física envolve rotações de corpos rígidos em esportes: um grupo francês publicou um artigo que tenta explicar porque atletas de lançamento de disco são mais suscetíveis à tontura do que atletas de lançamento de martelo. Uma das causas seria uma maior força de Coriolis durante o arremesso do disco em comparação ao martelo (menor momento de inércia, talvez?).

Quem diria... Acho que vou usar isso como exemplo (?) quando discutir de dinâmica de corpos rígidos nos cursos de Física I.

Outro destaque é o Ig-Nobel da paz: foi para Arturas Zuokas, o prefeito de Vilnius, Lithuania, que mostrou que o problema de carros de luxo estacionados irregularmente pode ser resolvido com um tanque de guerra:

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Neutrinos mais rápidos do que a luz?

No site do Estadão hoje, saiu mais uma daquelas matérias "bombásticas" sobre Física:

Cientistas dizem ter encontrado partícula que se move mais rápido que a luz

É de chamar a atenção já que a Teoria da Relatividade de Einstein estipula que nada pode viajar mais rápido do que a luz. Violações desse princípio poderiam, em tese, permitir que coisas estranhas como inversão de causalidade (=efeito precede a causa) ocorram.

A matéria do Estadão, como outras do gênero, traz explicações pouco inteligíveis e frases que não fazem sentido, tais como "medidas (...) do LHC mostraram neutrinos se movendo 60 nanosegundos mais rápido que a luz". Basta saber um pouquinho de Física para perceber que "nanosegundo" não é uma unidade de velocidade...

Fiquei curioso e fui procurar de onde saiu isso. Achei uma notícia no site da Science, muito mais bem escrita. A história é a seguinte: são dados extraídos de um detetor subterrâneo de neutrinos na Itália (OPERA), projetado para detectar neutrinos gerados no CERN e que viajam essencialmente em linha reta através da Terra. Os neutrinos interagem fracamente com a matéria (apenas via a interação fraca, sem trocadilho) e literalmente atravessam a tudo e a todos, praticamente sem deflexão. Para detectá-los, são necessários enormes tanques de água, geralmente localizados no interior de uma montanha ou no subsolo.

Os tais "60 nanosegundos" são a diferença entre o "tempo de voo" dos neutrinos entre o Cern e o detector se eles estivessem à velocidade da luz (o esperado) e o tempo de voo medido, obtido sabendo-se, com precisão suficiente, os instantes de emissão no Cern na Suíça e de deteção na Itália.

Experimentos assim são muito delicados e a Science entrevistou um especialista que duvida que o erro de medida do tempo de voo (baseado em sinais de GPS) seja menor do que dezenas de nanosegundos. Ele diz que "apostaria" que o resultado é fruto de um erro sistemático. E diz mais:

"I wouldn't bet my wife and kids because they'd get mad," he says. "But I'd bet my house."

("Eu não apostaria minha esposa e filhos porque eles ficariam bravos," diz. "Mas apostaria a minha casa").

E a reportagem da Science termina com uma velha máxima, bastante verdadeira:

Extraordinary claims require extraordinary evidence.

Em outras palavras, pé atrás com notícias "bombásticas".

Update: Saiu também na Folha. Ainda bombástico, mas pelo menos eles mencionam a distância ao falar dos "60 nanosegundos".

Update 2: Pedro Cunha de Holanda, especialista no assunto e amigo dos tempos de Unicamp, indicou um artigo da colaboração MINOS que, já em 2007, relatava dados de velocidades acima da luz para neutrinos. Pode ter coelho nesse mato.

Update 3: Artigo do site da Nature sobre o assunto (via Pedro). Bastante completo. Menciona o experimento da MINOS.

Update 4: Interessante post de Doug Natelson no Nanoscale Views sobre o assunto. O argumento é que a divulgação dos resultados em busca de validação por outros grupos é "boa ciência", mesmo com a possibilidade de um erro vir a ser encontrado posteriormente.

Concordo em parte: há várias coisas que motivam a publicação de um resultado com tamanhas potenciais implicações e o desejo de fazer "boa ciência" é apenas uma delas.

Update 5: Jon Butterworth faz uma análise interessante e cuidadosa do artigo e das possíveis fontes de erro sistemático na medida do tempo de voo. O comentário sobre os dados em um dos gráficos centrais do paper é bastante instrutiva. Via Not Even Wrong.

Update 6: Um post bem didático e bastante detalhado no blog A Física se Move (em português).

Update 7: De fato, foi encontrado um erro no experimento e a OPERA corrigiu o paper. A Relatividade está salva. Vide o post sobre o assunto no blog do Matt Strassler.

sábado, 10 de setembro de 2011

Dunga estava certo?

Atendendo a pedidos (? sim, esse blog atende a pedidos), mais um post futebolístico.

Depois do jogo da semana passada em que Neymar esteve apagado e Ganso saiu contundido logo no início (os "destaques" foram Leandro Damião e... Ronaldinho Gaúcho! Quem diria...), uma pergunta reacendeu na minha cabeça:

Será que Dunga estava certo em não chamar Neymar e Ganso para a Copa de 2010?

Já na Copa América essa discussão veio à tona. Pênaltis mal batidos à parte, acho que o que levou o Brasil a jogar mal na Copa América (incluíndo o fatídico empate com o Paraguai) é que Neymar e, principalmente, Ganso não "fizeram a diferença" nos jogos.

Mais do que isso: (ainda) não corresponderam à toda expectativa que se criou em torno deles na seleção principal. Tirando o primeiro jogo contra os EUA (show dos dois), as atuações de ambos na seleção tem sido pífias (alguns, mais educados, diriam "discretas").

Em outras palavras: nenhum dos dois tem apresentado "aquele" bom futebol do Santos que levou o Brasil inteiro a pedir que ambos fossem para a Copa.

Uma rápida googada para relembrar: Ganso e Neymar "apareceram" (por assim dizer) de verdade em março de 2010, quando o Santos foi campeão paulista. Três meses depois, havia um "clamor" nacional para que ambos fossem chamados para a seleção. Eu, na época, achava que o Ganso deveria ser, no mínimo, relacionado já que seria um substituto natural para o Kaká (que, diziam boatos depois confirmados, já estava com problema no joelho mas jogou a Copa mesmo assim, deixando a cirurgia para depois).

Dunga estava irredutível em relação a levar os dois. Disse que "se fosse para dar experiência, levava o meu filho" para a Copa. Também disse que "os caras são bons, são fantásticos, vão ter um futuro na seleção brilhante, mas não vamos enganar ninguém, tem muita coisa encomendada, tem muita coisa em jogo". E otras cositas más....

Bom, deu no que deu. Dunga cometeu vários erros na Copa mas hoje vejo que não levar Neymar e Ganso não foi um deles. Acho que esses garotos não teriam feito "a" diferença naquele time do mesmo jeito que não estão fazendo agora. Acho ainda que leva-los para a Copa poderia ter o efeito contrário.

Imagine a situação: Brasil x Holanda, 10 min do 2o. tempo. Logo após o empate da Holanda, Dunga tira Robinho e coloca Neymar. Neymar se joga algumas vezes cavando faltas, arranja confusão com o delicado do De Jong (aquele da entrada no Xabi Alonso na final) ou dá um chapéu com a bola parada (como já fez antes). Poderia até criar confusão com o próprio treinador (como no jogo Santos x Atlético-GO....). Enfim, Holanda faz 2 x 1 e elimina o Brasil (Felipe Melo, nesse universo alternativo, seria lembrado apenas pelo lindo passe pro primeiro gol).

Poderia não ter ocorrido exatamente assim mas é plausível imaginar que a inexperiência de Neymar viesse a prejudicar o Brasil em um jogo decisivo na Copa. Ou seja: a "culpa" pela eliminação poderia ter caído nas costas de um moleque de 18 anos que tinha um futuro brilhante pela frente.


Update: Vitor Birner, ex-co-apresentador do programa do Juca Kfouri na CBN, tem um post na mesma linha...